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D. AFONSO SANCHES FUNDADOR, GOVERNANTE E TROVADOR

D. Afonso Sanches financiou não só a magnífica igreja gótica do Mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde (em largas redondezas, durante séculos, não se conheceu outra semelhante em arte e vastidão), mas ainda as obras do mosteiro propriamente dito, isto é, dos edifícios de habitação das freiras. Além disso, dotou o mesmo mosteiro generosamente, para que as Clarissas não passassem privações. Tão generosamente que precisou inclusive de pedir autorização ao Papa para o fazer. A sua generosidade teve efeitos vários e duradouros. Como é sabido, desde 1723, está em Roma o seu processo de beatificação e canonização; o seu e o da sua esposa. Todavia, ao menos em determinados momentos, a sua vida não terá sido moralmente exemplar. Mas veremos isso melhor, adiante. D. Afonso Sanches era filho bastardo de D. Dinis e nasceu em 1289, ainda antes do casamento do Rei com a Rainha Santa Isabel. Chamou-se a sua mãe Aldonça Rodrigues de Telha. D. Dinis, confiando nas excelentes virtudes da espo
A “Memória dos Infantes” As Clarissas vila-condenses envidaram porfiados esforços no sentido de levar por diante a beatificação dos fundadores do seu mosteiro. O bem informado Mons. José Augusto Ferreira, no seu livro Os túmulos de Santa Clara de Vila do Conde , esclarece as diligências delas. A dada altura, em nota de rodapé, remete o leitor para a documentação que se encontrava então na Caixa 289, n.º 1, do Registo Geral, do Arquivo Distrital de Braga, que se refere a tais diligências. No Vaticano, é a seguinte a localização do Processo de D. Afonso Sanches e sua esposa: Arquivo Secreto do Vaticano, Congregação dos Santos, 288-289. Voltando ao Mons. José Augusto Ferreira, leiamos pois parte do que escreveu no primeiro capítulo do livro citado: “A história da vida dos Fundadores do extinto Mosteiro de Santa Clara foi escrita e publicada em 1726 por Fr. Fernando da Soledade, cronista da Ordem de S. Francisco, da Província de Portugal; porém este trabalho não é uma biografia fe
D. Afonso Sanches trovador D. Afonso Sanches foi um poeta (então dizia-se “trovador”) de certo mérito. Chegou até nós uma dezena e meia de poemas com a sua assinatura. O mais belo de todos é uma cantiga de amigo, uma paralelística; uma verdadeira jóia poética, que ele certamente não escreveu, mas que teve o mérito de recolher. Ouçamo-la:                    Dizia la fremozinha: - Ai Deus val, Como estou d’amor ferida! - Ai Deus val, Como estou d’amor ferida! Dizia la ben talhada: - Ai Deus val, Como estou d’amor coitada! - Ai Deus val, Como estou d’amor ferida! - Como estou d’amor ferida! - Ai Deus val, Não vem o que ben queria! - Ai Deus val, Como estou d’amor ferida! - Como estou d’amor coitada! - Ai Deus val, Não vem o que muit’amava! - Ai Deus val, Como estou d’amor ferida! As paralelísticas, que são poesia de mulher solteira, consideram-se a poesia menos artificiosa da nossa literatura; as repetições são constante
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A LENDA DA BERENGÁRIA

Na Igreja do Mosteiro de S.ta Clara de Vila do Conde Quem entra na Igreja de S.ta Clara, se se quiser dirigir de imediato para o claustro, antes de aí chegar, passa por um pequeno corredor. Nele, se reparar, encontra à direita uma lápide funerária onde se pode ler o nome da abadessa Beremgária. Se, depois de observar a lápide, entrar na sacristia, que fica ao lado, então, sobre o arcaz, poderá admirar uma tela seiscentista que pretende ilustrar o milagre da Berengária: o milagre da lenda desta abadessa. Que milagre é esse? Esperemos um pouco mais. Ao lado da porta que sai da sacristia para a igreja, há (havia) uma pequena tábua pendurada na parede, que fala de alguns nomes de pessoas ligadas ao mosteiro e que brilharam pela santidade. Evocam-se nela os nomes dos fundadores e evoca-se sobretudo a Abadessa Berengária. Reza ela: “Na era de 1315 se fundou este Convento de S.ta Clara de Vila do Conde pelo Infante Dom Afonso Sanches de Albuquerque, f.º do nobre rei D. Dinis,
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